quarta-feira, 8 de julho de 2009

Michael Jackson, Peter Pan e o Evangelista

Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele”. (Provérbios 22.6)



Não queira ser um menino: Queira ser um homem!

“Don´t wanna be a boy: you wanna be a man” (traduzido no subtítulo deste artigo) é um verso de “Beat it!” (“fuja”, “bata em retirada” ou “saia batido”, mais ao pé da letra) uma das mais explosivas canções de Michael Jackson, morto neste 25 de junho de 2009. À primeira leitura, pode soar como um incentivo à coragem de alguém que se vê perseguido, como sugere o restante da letra da canção.

A melodia vibrante, o solo elétrico da guitarra de Eddie Van Halen – na época considerado o melhor guitarrista do mundo - sugerem algo como um iminente enfrentamento, mas Jackson na verdade incentiva o perseguido a... Fugir! Exatamente. Ante a inevitabilidade do conflito, fuja, saia batido, “Beat it”! Trata-se de um trocadilho mágico utilizado pelo compositor, pois tomada ao pé da letra, a frase significa justamente o contrário (bata!).

Jackson era assim mesmo: anunciava uma coisa e fazia o contrário. Sempre. E sempre nos surpreendia, pois esperávamos que daquela vez ele cumprisse o prometido. No palco, o movimento era de quem andava para frente, mas o corpo ia para trás. A silhueta era a de um adolescente, a voz era a de um menino, mas quem cantava e dançava ali era um cinqüentão.

No entanto, constatando a trajetória de Michael Jackson (1958-2009), vemos uma pessoa que teve sua infância literalmente abortada aos cinco anos de idade, para liderar o sustento de sua família. Quase posso ouvir seu obcecado e violento pai lhe gritando aos ouvidos: “Aja como homem, não como um menino”! Quase posso ver o pequeno Michael e seus irmãos humilhados pelo pai, nos incansáveis ensaios dos Jackson Five, regados a imprecações e surras. Michael não teve a chance de fazer coisas de criança enquanto era criança. Seu pai não permitia. O show business não permitia. O mercado não permitia. Passou o restante da sua vida tentando resgatar a infância que lhe fora roubada. Toda sua fortuna, todos os seus recordes, todos os prêmios, toda a sua energia, tudo nele enfim era canalizado para resgatar algo que nunca seria resgatado, afinal: a infância que lhe fora seqüestrada em nome da fortuna de todos aqueles que dela se beneficiaram até a exaustão. Sem Michael, a família Jackson não existiria por mais que algumas semanas no cenário do show business. Ele era a coluna que sustentava o templo da opulência e fortuna que seu pai tanto cobiçou. Ele era o deus que resgatara a opulência dos orçamentos do show business, a salvação das bonificações dos executivos da sua gravadora.

Você é Peter Pan
Ao olhar-se no espelho, Jackson não enxergava um menino, mas todo o peso de um arrimo de família. Seu irmão mais velho, Jermaine, também cantor e instrumentista à época do Jackson Five, tornou-se por anos o executivo mais importante da sua gravadora. Papel de gente grande, papel de adulto. À época do Jackson Five ele já era homem formado. Chegava a destoar em estatura perto dos demais irmãos mais novos. Sua missão principal na gravadora era tornar o próximo álbum do irmão caçula um sucesso mais estrondoso do que o anterior. Nasceu afro-americano e envelheceu como tal. Michael simplesmente foi se amoldando a um padrão de beleza que desenvolvera como delirante projeto de vida: tornar-se algo totalmente diferente do que um dia fora chamado família, raízes ou coisa que o valha: mais branco, traços mais suaves, mais feminino, mais magro, cabelos mais lisos, mais longos, nariz mais fino, até quase desaparecer. Um claro recado ao seu criador.

Os anos passavam, a idade vinha, mas ele fora convencido desde muito, muito pequeno, que a sua figura infantil era o sustentáculo do seu sucesso. Mas paradoxalmente, ele não podia ser criança: apenas cantar como criança pelo resto de sua espiritualmente miserável, mas opulenta existência. Michael não podia crescer, mas teve que amadurecer numa velocidade estonteante. Michael não podia ser criança, brincar, sonhar, inventar. Não havia tempo a perder. Tal e qual Peter Pan, não podia envelhecer e passou mesmo a acreditar que não desejava envelhecer. Uma das últimas fotos de seu pai, num tablóide sensacionalista, mostrava um senhor acompanhado por uma esfuziante jovem, num figurino com sobrancelhas fatalmente desenhadas em forma de arco, pele esticada por intervenções cirúrgicas, cabelos longos, bigode fino e cavanhaque que mais lembravam, ironicamente, o Capitão Gancho. Onde estaria o crocodilo que engolira o relógio do Capitão Gancho, com mão e tudo? Não sei bem porque, mas não consigo dissociar esse crocodilo da figura de Leviatã.

Educa o menino...
Michael cumpriu com louvor o plano traçado por seu pai. Enriqueceu a todos em sua família. Enriqueceu seus empresários e os executivos de sua gravadora. Cumpriu à risca o estabelecido em Provérbios 22.6, sem jamais se desviar. Cumpriu tudo que lhe fora ensinado. Só não lhe ensinaram o resto da história: como resgatar a infância que não teve, a adolescência que não teve, as paixões juvenis que não teve (sua única paixão, alegadamente platônica, foi a cantora Diana Ross, com idade para ser sua mãe, e que lhe inspirou mais tarde a canção “Dirty Diana”, ou “Diana Suja” – rejeição?), os joelhos ralados das brincadeiras na rua, uma noção mais verdadeira de família. As conseqüências desse treinamento nunca foram consideradas por seus mentores. As falhas no caráter desse mega-artista agigantaram-se em função de etapas não vividas, experiências usurpadas. Seu assessor, Michael Levine, declarou em nota oficial: “...tenho que confessar que não estou surpreso com as notícias trágicas de hoje. Michael estava em uma jornada de autodestruição há anos. Seu talento era inquestionável, assim como seu desconforto com as regras do mundo. Um ser humano não pode simplesmente resistir a este nível de estresse prolongado". Como se vê, um discípulo dedicado, até as últimas conseqüências. Quando não se conhece as alternativas, é como se elas não existissem. Dos cinco aos cinqüenta anos, exaurido por seus criadores, dependente de injeções de Demerol, lá se vai um dos mais lucrativos negócios do show business. Lá se vai a criança que não podia crescer, pelo bem de todos que o cercavam. Lá se vai Peter Pan. Fica o crocodilo.

Certa vez, quando esteve no Brasil em 1993, noticiou-se que Michael tornara-se uma Testemunha de Jeová. Há quanto tempo ele vinha buscando por Jesus Cristo em seu coração? Terá ele se decidido por seguir a Jesus Cristo após receber a visita de uma dupla de evangelistas que vão de porta em porta e que bateram à sua porta numa certa manhã de sábado, como aconteceu comigo há cerca de quatorze anos? Quantos mais terão batido à sua porta para oferecer algum conforto espiritual legítimo, desinteressado – e não para tirar proveito de sua condição espiritualmente frágil?

Do fundo da minha alma, desejo que DEUS tenha piedade de sua alma atormentada, e que ele possa enfim desfrutar de uma vida plena e verdadeira, pois é o que também desejo para o meu futuro.

E que DEUS também tenha piedade de todos nós. Amém.


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Robson Lelles é Executivo em Estratégias de Negócios, pós-graduado em Marketing, graduado em Administração e Informática, membro da PIB em Inhaúma, RJ. Contatos: (21) 8858-5492 e robson.lelles@gmail.com.

Post original em Projeto Amor

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