sexta-feira, 21 de setembro de 2012

... e nossa atuação política?


Olá amigos,

O artigo, que reproduzo abaixo do meu texto, foi publicado no jornal O Estado de São Paulo no dia 20 de setembro e versa sobre as eleições em São Paulo. Mas bem que podia ser replicado Brasil afora, afinal, não é só na metrópole paulista que isto ocorre!
Pinço, do texto abaixo, a frase do autor "As igrejas, quando convertidas em aparelhos partidários, não iluminam mais nada. Viram agentes das trevas. Todas as igrejas, sem exceção. A História está cheia de exemplos tenebrosos, todos conhecemos esses exemplos, mas, nesta hora obscura, não custa relembrar os princípios que servem de alicerce à crença democrática que nos unifica."para me enveredar um pouco sobre o a realidade que nos cerca aqui em pleno e propalado 'coração do Brasil'.
Com 39 anos de vida, à beira dos 40, não me é difícil afirmar que quando chega a época da política (de dois em dois anos), várias igrejas e agremiações religiosas viram, literalmente, "currais eleitorais". Há quem negocie a reforma do seu templo em troca dos votos de fiéis. Há líder (não precisa necessariamente ser o pastor ou missionário, padre, reverendo, pai-de-santo, etc...) que "fecha" com candidato A ou B os votos de seus fiéis para ganhar o terreno ao lado da igreja/templo/tabernáculo/catedral/mesquita/terreiro visando uma futura ampliação da construção ou receba, às vezes até como 'oferta' oportunista e com intenções outras.
O artigo trouxe-me à baila inúmeras situações - algumas presenciadas, outras sabidas de fontes seguras e probas - em que líderes religiosos são, literalmente, cooptados por facções políticas em razão dos supostos 'ganhos' no caso da vitória destas.
Creio que aquele que professa uma crença religiosa não deve ser alienado político, pelo contrário, deve procurar levar as 'boas práticas' que o modus vivendi religioso  lhe institui (honestidade, probidade, verdade, liberalidade e outras qualidades) para a vida pública, buscando o real bem estar de todos, independentemente se é da mesma fé ou não!
Mas, infelizmente, o que vemos em algumas igrejas/agremiações religiosas é a busca desenfreada por poder, dinheiro, ganho territorial e patrimonial, como se o fulcro principal de sua obra fosse isso. Não é, queridos! A igreja deve, sim, ter atuação política na sociedade, mas não na forma partidária! Deve ser a vanguarda na defesa das questões sociais, ser palco da denúncia contra a corrupção em suas várias instâncias (vide artigo de Henrique Moraes Ziller - A Igreja Evangélica é legitimadora da corrupção, quando não a denuncia - adendo meu), enfim, ter atuação legítima na sociedade, e não na forma partidária! É o que firmemente creio!

No afã de que apenas entendam meu desabafo, insto a que leiam o artigo, reflitam, repliquem (se acharem por bem) e anseiem para que Jesus Cristo seja atuante, de verdade, em nossa vida espiritual e ministério, de forma que nos leve à uma ação política libertadora e verdadeiramente fincada nos bons e ideais princípios que ele nos legou.

Amplexos fraternos

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Samuel Lima ( שְׁמוּאֵל ) 
Bloghttp://www.samucajor.net

Confira, abaixo o texto aludido

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A nossa guerra santa metropolitana

Publicado em 20 de setembro de 2012

Eugênio Bucci (*)
A competição entre os candidatos a prefeito na cidade de São Paulo virou gincana religiosa. Representantes católicos afirmam que a candidatura de Celso Russomanno (PRB) é uma estratégia maquiavélica da Igreja Universal do Reino de Deus e da Rede Record para ganhar a Prefeitura. Identificam aí uma cruzada fundamentalista, perigosíssima, apocalíptica. De seu lado, Russomanno nega tudo. Garante que seu partido tem mais católicos do que evangélicos e até pediu uma audiência reservada com o cardeal-arcebispo dom Odilo Scherer para pacificar os ânimos (infelizmente, conforme este jornal noticiou ontem, a Cúria Metropolitana alegou problemas de agenda e não atendeu ao pedido).
Há uma tensão religiosa no ar poluído da nossa capital. O ambiente vai pesando, vai confluindo para aquilo que místicos de outras inspirações espirituais chamariam de "energia ruim" ou de "clima carregado". A esta altura da campanha eleitoral, nada poderia ser pior.
As igrejas, quando convertidas em aparelhos partidários, não iluminam mais nada. Viram agentes das trevas. Todas as igrejas, sem exceção. A História está cheia de exemplos tenebrosos, todos conhecemos esses exemplos, mas, nesta hora obscura, não custa relembrar os princípios que servem de alicerce à crença democrática que nos unifica.
Uma disputa eleitoral - o rito mais alto da democracia, como gostam de dizer os cientistas políticos - existe para debater e, se possível, equacionar os impasses e as necessidades comuns de uma sociedade, qualquer que seja ela, uma cidade ou um país. Estamos falando aqui de impasses ou necessidades comuns (de uma comunidade): são impasses e necessidades, portanto, de ordem pública, que afetam todos, independentemente das particularidades individuais ou grupais de uns e outros. Em razão disso, os processos de discussão e de decisão que caracterizam as campanhas eleitorais democráticas pertencem à esfera da política, não da religião. Enquanto a primeira lida com argumentos racionais (ainda que, por vezes, nos pareçam um tanto estúpidos), a segunda se sustenta na fé. Quem pretende resolver a política com apelos vindos da fé pretende matar a política. Aliás, se a fé, sozinha, desse conta de equacionar os dilemas de uma cidade, a política não seria necessária - e poderia até ser dispensada, jogada fora, ou mesmo proibida. Em conclusão: trazer a coação eclesiástica para o núcleo do debate eleitoral constitui um ataque à democracia e à liberdade individual.
Sim, isso tudo já é sabido, é o bê-á-bá, mas parece que todo mundo se esqueceu do óbvio. Chega a ser inacreditável que líderes religiosos - evangélicos ou católicos, tanto faz - desconheçam princípios tão elementares, mas eles dão sinais de que os desconhecem e, às vezes, dão provas cabais de que os desprezam. Já vimos essa degradação em outras ocasiões. Na campanha presidencial de 2010, por exemplo, o pretexto do aborto abriu caminho para as cruzadas mais insanas, tornando irreconhecíveis faces que eram vistas como democráticas até então. Nessas horas de nuvens escuras, até mesmo políticos sabidamente agnósticos - ou ateus praticantes - assumem o papel de profetas moralistas empenhados em promover o fanatismo religioso para corroer o diálogo racional. As eleições se rebaixam, o potencial das urnas se apequena, a vida social se estreita - e a própria religião perde a graça.
Ninguém aqui tem o direito de se iludir. Quem promove o obscurantismo em períodos eleitorais não é o povo crédulo, como dizem os cínicos, mas as lideranças, os dirigentes religiosos e partidários, que exploram a credulidade dos humildes. Pelo que temos visto em São Paulo, hoje católicos e evangélicos enveredam pelo mesmo desvio, com pregações aparentemente antagônicas, mas que são igualmente antipolíticas. Se conseguirem transformar a eleição municipal numa contenda entre duas igrejas, essas lideranças religiosas (e partidárias) serão sócias na tarefa de desnaturar palanques em altares profanos.
Existe um problema no imbricamento entre religião, partido político e redes de televisão e de rádio, representado pela triangulação entre Igreja Universal, PRB e Rede Record? É claro que existe. Mas esse é um problema político, não religioso. E não é um problema dos evangélicos, por favor. Trata-se de um problema político passível de ser solucionado com ferramentas próprias da política, no âmbito do Estado de Direito (como, entre outras medidas, pela adoção de regras que proíbam a promiscuidade entre emissoras, partidos políticos e igrejas). Em tempo: existem inúmeras emissoras de orientação expressamente católica que caem na mesma distorção. Além disso, embora católicos petistas reclamem de Russomanno, é bom lembrar (outra vez, lembrar o óbvio) que o PRB se construiu com o apoio do lulismo, que também açulou seguidamente a TV Record por ter visto nela uma oportunidade de fustigar as "elites".
Não, o fenômeno Russomanno não caiu do céu, assim como não vai para o céu. Ele decorre do lulismo, da ausência de regras na radiodifusão e do oportunismo de sempre. Não vale, agora, sair por aí dizendo que os evangélicos, por serem evangélicos, querem levar o fundamentalismo à Prefeitura paulistana. Nada mais falso, nada mais baixo, nada mais ofensivo. A fé pessoal de cada um não tem nada que ver com isso. Se queremos culpar, se queremos satanizar alguém, deixemos em paz os comuns do povo. Vamos procurar as causas na sacrossanta esperteza dos caciques e vamos debater politicamente o que politicamente foi urdido.
No Brasil, é bem verdade, como alguém logo vai avisar, até as guerras santas terminam em pizza (acompanhada de vinho do padre). Mesmo assim, recomenda-se cautela aos chefes religiosos. Cautela e humildade. Que ninguém volte a chutar a santa - e que ninguém bata a porta na cara de ninguém. De vez em quando, ter um pouco de fé na política também ajuda.
* JORNALISTA,  É PROFESSOR DA ECA-USP E DA ESPM
Fonte do texto de Eugênio Bucci: Jornal O Estado de São Paulo

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