sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Período eleitoral ferve o caldeirão batista

Artigo do pastor Wellington Santos posicionando-se sobre o vídeo divulgado pelo titular da PIB de Curitiba, pastor Paschoal Piragine. Leiam e reflitam.

1) Fiquei surpreso em ver o ex-presidente da CBB falando em união com os bispos da CNBB para lutar contra a iniqüidade;
2) Fiquei triste em ver que política, que até então era coisa do Diabo, tornou-se coisa de Deus e da igreja que "se preocupa" com os valores do evangelho;
3) Fiquei triste de ver que só agora o Pr. Paschoal Piragine e outros estão vendo iniquidade institucional;
4) Fiquei triste de ver o Pr. Paschoal jogando todos os parlamentares sérios do PT e compromissados com a vida e a luta por dignidade nesta pátria, sendo tratadas pessoas sem nenhuma responsabilidade;
5) Fico triste por ver que o nome de Deus continua sendo usado para manipular e assustar as pessoas;
6) Fico triste de continuar vendo a partir destes pastores e líderes religiosos que a única coisa que pode mover a mão de Deus contra uma nação é a forma como este povo trata suas questões sexuais.

Quero declarar a quem interessar possa: Não creio neste evangelho piegas nem neste Deus manipulável que se preocupa mais com a sexualidade da sua criação do que com a dignidade com que sua criação está vivendo.

Confesso que fiquei profundamente triste com as palavras e o vídeo apresentado na PIB de Curitiba pelo Pr. Paschoal Piragine. Triste pelo fato de não saber julgar direito se é desinformação política e ou maldade ideológica.

Fiquei surpreso em ver o ex-presidente da CBB falando em união com os bispos da CNBB para lutar contra a iniqüidade. Até ontem os pastores que defendiam esta união para lutar contra a ditadura, pela reforma agrária, por justiça social e outros temas de interesse do nosso povo, eram taxados de ecumênicos e discriminados pelas lideranças batistas. Até porque estes mesmos que agora defendem a união com a CNBB ontem diziam que ecumenismo era um sinal do anti-cristo.

Fiquei triste em ver que política, que até então era coisa do Diabo, tornou-se coisa de Deus e da igreja que "se preocupa" com os valores do evangelho. Até então estes líderes mantinham-se "longe" dos temas políticos, longe dos temas políticos que lhes incomodam e denunciam sua omissão diante dos assassinatos de negros, pobres, homossexuais, menores abandonados, trabalhadores rurais sem terra (Eldorado dos Carajás), etc. Que preocupação.

Fiquei triste de ver que só agora o Pr. Paschoal Piragine e outros estão vendo iniquidade institucional. Não viram nenhuma iniquidade nas inúmeras mortes da ditadura militar no Brasil, nunca viram iniquidade nos governos de Sarney, Collor, Itamar e principalmente de FHC. Em que Brasil estes estavam vivendo? Respondo, no Brasil dos ricos e que não conhecem as dores do nosso povo de perto.

Fiquei triste de ver o Pr. Paschoal jogando todos os parlamentares sérios do PT e compromissados com a vida e a luta por dignidade nesta pátria, sendo tratadas pessoas sem nenhuma responsabilidade. Dizem hoje que o PT é satanista, pedófilo e outras misérias mais. Pensei que este tempo já tinha passado. Esperava um debate mais democrático e inteligente.


Fico triste por ver que o nome de Deus continua sendo usado para manipular e assustar as pessoas. Engraçado: quando declaro meu apoio a partidos de luta histórica de esquerda, quando declaro meu apoio a luta dos trabalhadores sem terra (MST, CPT, MLST, etc), quando vou as ruas lutar por justiça, denunciar mortes, cobrar políticas públicas que beneficiem o povo, não sou tratado como homem de Deus, falando em nome de Deus e preocupado com os valores do evangelho que defendem a vida. Quando usam o púlpito para declarar posição contra partidos e posições de caráter moral e sexual, estão falando em nome de Deus?

Fico triste de continuar vendo a partir destes pastores e líderes religiosos que a única coisa que pode mover a mão de Deus contra uma nação é a forma como este povo trata suas questões sexuais. Fome, falta de moradia, latifúndio, acúmulo de riqueza, miséria, idolatria ao poder e ao dinheiro, desigualdade social, injustiças de todo tipo, etc. não incomodam o coração de Deus.

Quero declarar a quem interessar possa: Não creio neste evangelho piegas nem neste Deus manipulável que se preocupa mais com a sexualidade da sua criação do que com a dignidade com que sua criação está vivendo.

Sei que quem sabe usar bem as palavras e manipular as imagens serão aplaudidos. Sei que posso ser execrado pelas lideranças que como bem afirmou o Pr. Paschoal (30 anos sem se manifestar...), vivem num Brasil de outras preocupações que não são as minhas pessoais nem o que move meu coração ministerial. Talvez por não concordar com estes posicionamentos não seja mais crente, cristão e tampouco pastor. Se a forma de ser respeitado como tal é assinando embaixo com as palavras do dileto pastor, prefiro abrir deste respeito.

Desculpe me alongar, não gosto de usar este espaço para dialogar. Respeito o direito do Pr. Pachoal manifestar sua opinião, indago apenas uma coisa: O contraditório será apresentado por quem na PIB de Curitiba?

Quero ser respeitado, tenho 19 anos de ordenação no ministério pastoral batista. Fui presidente 3 vezes da Convenção Batista Alagoana, fui membro da JUMOC durante três anos, sou pastor da IBP desde 1993. Porque coloco isto para tod@s que irão ler este desabafo. Pelo simples fato de declarar durante toda minha vida apoio aos movimentos sociais que lutam em defesa da justiça neste país e sempre ser tratado como aloprado pela direita conservadora da minha denominação. Aloprados são os que denunciaram anos a fio as estruturas de poder que andaram de braços dados com a ditadura e outros meios carregados de iniquidade. Estes que defendem a família e a moralidade são homens de Deus cheio do temor e assim se manifestam com toda autoridade. Chega de hipocrisia.
Abraços,

*Igreja Batista do Pinheiro Maceió-Alagoas

PS.:
Estranho este profeta só ter aparecido agora, 30 anos depois de posicionamentos silenciosos e marcados pela omissão.

Estranho tbm que este profeta fale em nome do grupo que produziu o vídeo, que tem por trás o Rodovalho, bispo dos "profetas" que colocaram dinheiro na cueca em Brasília e depois fizeram uma oração ao "senhor".

Estranho tbm que este profeta não denuncie a fome, o acúmulo de riqueza e de terras no Brasil (Isaías 5:8), a pedofilia no meio do clero católico e entre pastores protestantes e a miséria.

Estranho tbm que este profeta só agora percebe iniquidade nas instituições governamentais. Nunca tinha visto antes no governo de FHC com a venda da Vale e a compra do congresso para aprovar a reeleição.

Estranho que este profeta não tenha visto iniquidade no regime militar que levou o presbitério e outras instâncias denominacionais a entregarem seus pares (Rubem Alves, Richard Shaul, Rev, Wriht, entre outros que ou foram mortos ou tiveram que sair do país às pressas naquele período.

Por estas e outras meu dileto pastor e amigo, que ouso discordar do título de profeta para aqueles que só se lembram de ser profetas quando lhes é interessante.
 

Abraços,
Pr. Wellington Santos


Fonte: Blog do Edvar

Nenhum comentário: