quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Artigo do pastor Clemir Fernandes

Jesus e a pedagogia do carinho

Hoje elas são reconhecidas com o valor que têm: são pessoas e devem ser tratadas com todos os direitos como é devido a qualquer ser humano. Mas nem sempre foi assim. Cora Coralina, em alguns de seus poemas, ilustra a condição das crianças no Brasil na segunda metade do século 19: Praticamente sem direitos, sem respeito, embora com muitos deveres... Isso perdurou, em parte, ainda pelas primeiras décadas do século seguinte. (Na prática, isso já foi completamente abolido?!)

O desrespeito ou falta de consideração à criança vem de longe. Por isso, já no século 18 o filósofo francês J. J. Rousseau defendia que ela devia ser vista e respeitada como criança, não como um adulto em miniatura... Em seu livro sobre uma teoria da educação – Emílio – ele propugnava uma pedagogia que considerasse a individualidade da criança e o estímulo pedagógico para que ela pudesse desabrochar todo o seu potencial intelectual, psicológico e social.

Muito antes de todos estes saberes, no século 1 de nossa era, Jesus Cristo deu radical exemplo e contribuição à causa das crianças ao reconhecer seus direitos e plena dignidade. Direitos, por exemplo, de se aproximarem dele, de se comunicarem com ele, de serem abençoadas por ele. Isso num tempo em que crianças não podiam interromper os adultos ou mesmo interagir com eles, principalmente em público.

Quando os discípulos tentaram impedir que as crianças se aproximassem do Mestre, seguindo o costume da época, Jesus não gostou e – como diz o pastor Élben César – “comprou uma briga” com seus seguidores por causa das crianças. E os advertiu: “Deixem as crianças virem a mim e não as impeçam, porque delas é o Reino de Deus” (Mc 10.13-16).

Ao invés de rechaçar as crianças (como geralmente todos faziam), de mandar elas se calarem (afinal criança é barulhenta e inquieta...), de rejeitá-las por não poderem “entender” seu sermão, Jesus usa da pedagogia do carinho. Ele acolhe todas elas, as abraça com ternura e roga a bênção do Pai por suas vidas. Vidas que estavam sempre excluídas... Jesus, porém, reage a este costume perverso e resgata a dignidade daquelas que sequer era contadas nos dados oficiais (cf. Mt 14.21; Lc 2.1-5).

Que a pedagogia do carinho de Jesus seja praticada hoje, efetivamente, por todos nós, seja no contexto do lar, da escola, da igreja ou em qualquer outro lugar. Para que tenhamos um mundo mais marcado pela graça, alegria e justiça de Deus, cuja simplicidade e afeição das crianças, encarnam tão bem estes valores! Valores que são do Reino de Deus, a quem elas pertencem e são, ao mesmo tempo, suas legítimas herdeiras.

Pr. Clemir Fernandes

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