segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A ditadura burocrática batista

Por João Pedro (*)

Toda organização, para se manter, precisa de uma máquina que forme e reproduza os produtores da sua própria produção. No mundo da política, o cidadão tem que pagar um custo do “Welfare State” - estado do bem estar social. Para o Estado moderno cumprir com o que se espera e se exige dele: estradas, educação, segurança, saúde, luz, água... precisa de taxar seus próprios cidadãos.

Quanto maior é o Estado, mais contas a pagar. No Brasil, o custo cidadão chega a 4 meses do ano. Aspectos ainda aceitáveis, pois, a saúde “beira a perfeição” e a educação é exemplo para o mundo. A vida moderna tem o seu custo. Morar em prédios e condomínios implicam em pagar por isso. Até pertencer a clubes, ter hobbies, ir a confrarias e associações religiosas tem um custo. O Welfare State, quer dizer, desejar segurança, conforto e identidade tem o seu preço.

A organização deve criar um corpo burocrático para conseguir se manter e gerir os interesses dos seus associados. Todo sistema burocrático tem o seu custo. A empresa burocrática cria sempre mecanismos e justificativas de sobretaxar os seus associados. Sempre há necessidades de se pagar isto ou aquilo. Impostos (o nome já diz) são criados, desaparecem e voltam a aparecer em outra forma e com outros nomes.

Há, contudo, algumas tentações que o sistema do Welfare State passa. A primeira é uma associação, clube, condomínio, confraria e Estado se esquecer da sua natureza, sua razão de existência, pois que este surgiu em razão de servir, agregar e proteger os seus sócios. A segunda, é transformar a natureza do servir em ser servido. O sócio vira filiado, sujeito a deveres, obrigações, punições, tabuizações e interditos. O privilégio individual é transformado em ônus. Não é a organização que trabalha para o indivíduo, mas este trabalha para a ela. A organização passa a ter vida própria e independente.

A burocratização é a responsável por essas inversões de papéis. Alguém já escreveu que não temia a ditadura do proletariado, mas a ditadura da burocracia. A burocracia funciona no nível da impessoalidade, visto que atende a um número grande de pessoas. Deliberadamente, esquece-se que cada indivíduo é um universo, um ser completo e complexo e trata a todos sob as mesmas obrigações.

Exatamente aí, na impessoalidade da burocracia, o indivíduo é despessoalizado e começa a viver em função da associação. Magicamente, o indivíduo é convencido que, ao bem da sua organização, tem que se submeter e cumprir os seus estatutos. Abre-se mão dos direitos pessoais e individuais e passa-se a servir à organização.

Os batistas têm um "rico" sistema burocrático. Organizações foram criadas para servir a indivíduos e ajudá-los em suas necessidades (jovens, adolescentes, homens, mulheres, pastores...). Com o tempo, já não mais serviam, mas começaram a exigir serem servidas. Da prestação de serviço, passou-se à cobrança do associado. Transformaram-se em uma organização burocrática. O indivíduo perde o nome e identidade ante a burocracia. Quem não se enquadrar, está fora. Deverá ser punido com os rigores dos estatutos.

É essa a impressão que tenho da minha denominação. Isso fica mais patenteado ao ver nossos relatórios financeiros. Diversas entidades recebem verbas e ainda cobram dos seus afiliados/associados, mas quando se pergunta pelo serviço prestado, este se resume em manter seu corpo de funcionários com informações desconexas.

As Convenções (estadual e nacional) tem o seu custo administrativo-burocrático. Dentro dela departamentos que são maiores do que ela, estranha figura, pois órgãos administrativos como a Junta de Missões Mundiais e Junta de Missões Nacionais, por exemplo, se tornaram na prática, departamentos da Convenção com a reforma implantada, além dos grandes seminários, STBSB, STBNB e STBE. Na realidade os órgãos executivos são os externos, a JUMOC, a União Feminina e a União Masculina. E os estranhos órgãos auxiliares, alguns tão distantes do corpo, outros tão ligados que mais parecem departamentos, como a Ordem dos Pastores, mas, por outro lado, com dificuldades de ser do corpo.

Nas Convenções Estaduais também temos situações estranhas, além disso, temos a figura das Associações distritais... A burocracia denominacional alimenta a sua própria burocracia. A burocracia batista é um tipo de elefantíase com mais ônus do que bônus para igrejas e indivíduos.

Quando se pensa em Convenção como trabalho missionário e associativo, comparado com o que é destinado para o seu fim específico, vê-se que os valores são bem pequenos, na realidade ínfimos porque ficaram nas instâncias burocráticas da própria denominação, é muita cabeça para pouco corpo.

Batistas já está passando da hora de desburocratizar!

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(*) Pr. João Pedro Gonçalves é Bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de Brasília (1984); Bacharel em Filosofia pela Universidade de Brasília, UnB (1995); Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, UMESP, (2001) e Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília, UnB (2006), é pastor da Igreja Batista no Lago Sul (Brasília, DF) e professor na Faculdade Evangélica de Brasília (Letras e Pedagogia) e professor na Faculdade Teológica Batista de Brasília (Teologia), membro do conselho editorial da Revista Eletrônica da Faculdade Evangélica de Brasília.

Publicado originalmente em Projeto Amor

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