Por João Pedro (*)
Toda organização, para se manter, precisa de uma máquina que forme e reproduza os produtores da sua própria produção. No mundo da política, o cidadão tem que pagar um custo do “Welfare State” - estado do bem estar social. Para o Estado moderno cumprir com o que se espera e se exige dele: estradas, educação, segurança, saúde, luz, água... precisa de taxar seus próprios cidadãos.
Quanto maior é o Estado, mais contas a pagar. No Brasil, o custo cidadão chega a 4 meses do ano. Aspectos ainda aceitáveis, pois, a saúde “beira a perfeição” e a educação é exemplo para o mundo. A vida moderna tem o seu custo. Morar em prédios e condomínios implicam em pagar por isso. Até pertencer a clubes, ter hobbies, ir a confrarias e associações religiosas tem um custo. O Welfare State, quer dizer, desejar segurança, conforto e identidade tem o seu preço.
A organização deve criar um corpo burocrático para conseguir se manter e gerir os interesses dos seus associados. Todo sistema burocrático tem o seu custo. A empresa burocrática cria sempre mecanismos e justificativas de sobretaxar os seus associados. Sempre há necessidades de se pagar isto ou aquilo. Impostos (o nome já diz) são criados, desaparecem e voltam a aparecer em outra forma e com outros nomes.
Há, contudo, algumas tentações que o sistema do Welfare State passa. A primeira é uma associação, clube, condomínio, confraria e Estado se esquecer da sua natureza, sua razão de existência, pois que este surgiu em razão de servir, agregar e proteger os seus sócios. A segunda, é transformar a natureza do servir em ser servido. O sócio vira filiado, sujeito a deveres, obrigações, punições, tabuizações e interditos. O privilégio individual é transformado em ônus. Não é a organização que trabalha para o indivíduo, mas este trabalha para a ela. A organização passa a ter vida própria e independente.
A burocratização é a responsável por essas inversões de papéis. Alguém já escreveu que não temia a ditadura do proletariado, mas a ditadura da burocracia. A burocracia funciona no nível da impessoalidade, visto que atende a um número grande de pessoas. Deliberadamente, esquece-se que cada indivíduo é um universo, um ser completo e complexo e trata a todos sob as mesmas obrigações.
Exatamente aí, na impessoalidade da burocracia, o indivíduo é despessoalizado e começa a viver em função da associação. Magicamente, o indivíduo é convencido que, ao bem da sua organização, tem que se submeter e cumprir os seus estatutos. Abre-se mão dos direitos pessoais e individuais e passa-se a servir à organização.
Os batistas têm um "rico" sistema burocrático. Organizações foram criadas para servir a indivíduos e ajudá-los em suas necessidades (jovens, adolescentes, homens, mulheres, pastores...). Com o tempo, já não mais serviam, mas começaram a exigir serem servidas. Da prestação de serviço, passou-se à cobrança do associado. Transformaram-se em uma organização burocrática. O indivíduo perde o nome e identidade ante a burocracia. Quem não se enquadrar, está fora. Deverá ser punido com os rigores dos estatutos.
É essa a impressão que tenho da minha denominação. Isso fica mais patenteado ao ver nossos relatórios financeiros. Diversas entidades recebem verbas e ainda cobram dos seus afiliados/associados, mas quando se pergunta pelo serviço prestado, este se resume em manter seu corpo de funcionários com informações desconexas.
As Convenções (estadual e nacional) tem o seu custo administrativo-burocrático. Dentro dela departamentos que são maiores do que ela, estranha figura, pois órgãos administrativos como a Junta de Missões Mundiais e Junta de Missões Nacionais, por exemplo, se tornaram na prática, departamentos da Convenção com a reforma implantada, além dos grandes seminários, STBSB, STBNB e STBE. Na realidade os órgãos executivos são os externos, a JUMOC, a União Feminina e a União Masculina. E os estranhos órgãos auxiliares, alguns tão distantes do corpo, outros tão ligados que mais parecem departamentos, como a Ordem dos Pastores, mas, por outro lado, com dificuldades de ser do corpo.
Nas Convenções Estaduais também temos situações estranhas, além disso, temos a figura das Associações distritais... A burocracia denominacional alimenta a sua própria burocracia. A burocracia batista é um tipo de elefantíase com mais ônus do que bônus para igrejas e indivíduos.
Quando se pensa em Convenção como trabalho missionário e associativo, comparado com o que é destinado para o seu fim específico, vê-se que os valores são bem pequenos, na realidade ínfimos porque ficaram nas instâncias burocráticas da própria denominação, é muita cabeça para pouco corpo.
Batistas já está passando da hora de desburocratizar!
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(*) Pr. João Pedro Gonçalves é Bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de Brasília (1984); Bacharel em Filosofia pela Universidade de Brasília, UnB (1995); Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, UMESP, (2001) e Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília, UnB (2006), é pastor da Igreja Batista no Lago Sul (Brasília, DF) e professor na Faculdade Evangélica de Brasília (Letras e Pedagogia) e professor na Faculdade Teológica Batista de Brasília (Teologia), membro do conselho editorial da Revista Eletrônica da Faculdade Evangélica de Brasília.
Publicado originalmente em Projeto Amor
Toda organização, para se manter, precisa de uma máquina que forme e reproduza os produtores da sua própria produção. No mundo da política, o cidadão tem que pagar um custo do “Welfare State” - estado do bem estar social. Para o Estado moderno cumprir com o que se espera e se exige dele: estradas, educação, segurança, saúde, luz, água... precisa de taxar seus próprios cidadãos.
Quanto maior é o Estado, mais contas a pagar. No Brasil, o custo cidadão chega a 4 meses do ano. Aspectos ainda aceitáveis, pois, a saúde “beira a perfeição” e a educação é exemplo para o mundo. A vida moderna tem o seu custo. Morar em prédios e condomínios implicam em pagar por isso. Até pertencer a clubes, ter hobbies, ir a confrarias e associações religiosas tem um custo. O Welfare State, quer dizer, desejar segurança, conforto e identidade tem o seu preço.
A organização deve criar um corpo burocrático para conseguir se manter e gerir os interesses dos seus associados. Todo sistema burocrático tem o seu custo. A empresa burocrática cria sempre mecanismos e justificativas de sobretaxar os seus associados. Sempre há necessidades de se pagar isto ou aquilo. Impostos (o nome já diz) são criados, desaparecem e voltam a aparecer em outra forma e com outros nomes.
Há, contudo, algumas tentações que o sistema do Welfare State passa. A primeira é uma associação, clube, condomínio, confraria e Estado se esquecer da sua natureza, sua razão de existência, pois que este surgiu em razão de servir, agregar e proteger os seus sócios. A segunda, é transformar a natureza do servir em ser servido. O sócio vira filiado, sujeito a deveres, obrigações, punições, tabuizações e interditos. O privilégio individual é transformado em ônus. Não é a organização que trabalha para o indivíduo, mas este trabalha para a ela. A organização passa a ter vida própria e independente.
A burocratização é a responsável por essas inversões de papéis. Alguém já escreveu que não temia a ditadura do proletariado, mas a ditadura da burocracia. A burocracia funciona no nível da impessoalidade, visto que atende a um número grande de pessoas. Deliberadamente, esquece-se que cada indivíduo é um universo, um ser completo e complexo e trata a todos sob as mesmas obrigações.
Exatamente aí, na impessoalidade da burocracia, o indivíduo é despessoalizado e começa a viver em função da associação. Magicamente, o indivíduo é convencido que, ao bem da sua organização, tem que se submeter e cumprir os seus estatutos. Abre-se mão dos direitos pessoais e individuais e passa-se a servir à organização.
Os batistas têm um "rico" sistema burocrático. Organizações foram criadas para servir a indivíduos e ajudá-los em suas necessidades (jovens, adolescentes, homens, mulheres, pastores...). Com o tempo, já não mais serviam, mas começaram a exigir serem servidas. Da prestação de serviço, passou-se à cobrança do associado. Transformaram-se em uma organização burocrática. O indivíduo perde o nome e identidade ante a burocracia. Quem não se enquadrar, está fora. Deverá ser punido com os rigores dos estatutos.
É essa a impressão que tenho da minha denominação. Isso fica mais patenteado ao ver nossos relatórios financeiros. Diversas entidades recebem verbas e ainda cobram dos seus afiliados/associados, mas quando se pergunta pelo serviço prestado, este se resume em manter seu corpo de funcionários com informações desconexas.
As Convenções (estadual e nacional) tem o seu custo administrativo-burocrático. Dentro dela departamentos que são maiores do que ela, estranha figura, pois órgãos administrativos como a Junta de Missões Mundiais e Junta de Missões Nacionais, por exemplo, se tornaram na prática, departamentos da Convenção com a reforma implantada, além dos grandes seminários, STBSB, STBNB e STBE. Na realidade os órgãos executivos são os externos, a JUMOC, a União Feminina e a União Masculina. E os estranhos órgãos auxiliares, alguns tão distantes do corpo, outros tão ligados que mais parecem departamentos, como a Ordem dos Pastores, mas, por outro lado, com dificuldades de ser do corpo.
Nas Convenções Estaduais também temos situações estranhas, além disso, temos a figura das Associações distritais... A burocracia denominacional alimenta a sua própria burocracia. A burocracia batista é um tipo de elefantíase com mais ônus do que bônus para igrejas e indivíduos.
Quando se pensa em Convenção como trabalho missionário e associativo, comparado com o que é destinado para o seu fim específico, vê-se que os valores são bem pequenos, na realidade ínfimos porque ficaram nas instâncias burocráticas da própria denominação, é muita cabeça para pouco corpo.
Batistas já está passando da hora de desburocratizar!
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(*) Pr. João Pedro Gonçalves é Bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de Brasília (1984); Bacharel em Filosofia pela Universidade de Brasília, UnB (1995); Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, UMESP, (2001) e Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília, UnB (2006), é pastor da Igreja Batista no Lago Sul (Brasília, DF) e professor na Faculdade Evangélica de Brasília (Letras e Pedagogia) e professor na Faculdade Teológica Batista de Brasília (Teologia), membro do conselho editorial da Revista Eletrônica da Faculdade Evangélica de Brasília.
Publicado originalmente em Projeto Amor
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