terça-feira, 25 de novembro de 2008

Louvor descartável

Outro ótimo texto de Lourenço Stelio Rega

LOUVOR DESCARTÁVEL

Nem dá tempo para que a alma seja impregnada pelo conteúdo espiritual de uma canção se logo ela sai do repertório

Os especialistas falam muito sobre a influência da música sobre nosso interior e nossos sentimentos mais profundos. Os ritmos musicais mexem não somente com as emoções, mas também com a alma. É comum, por exemplo, lembrarmos de situações passadas ou pessoas quando ouvimos uma determinada canção ou acorde musical.

O mesmo acontece com canções ou hinos que aprendemos ao longo da vida cristã. O hino Sou feliz tem um significado profundo para minha alma e me desafia a continuar confiando em Deus, mesmo diante das tribulações, da mesma forma como quando o hino foi composto. Há hinos de testemunho e de súplica; de júbilo e de contrição.

O conhecimento da história de como um hino foi composto tem significado fundamental para ampliar o seu imaginário em nossa alma. Da mesma forma, o estilo e o ritmo têm seu significado. Assim, o hino Castelo forte cantado pausadamente produz um efeito; em ritmo mais contemporâneo, acarreta outro.

Um cântico espiritual tem de ser aprendido, cantado, compreendido em sua origem e relacionado com alguma experiência em nossa vida pessoal. Isso leva tempo, pois é uma construção simbólica que vai atingindo os vários níveis de nossa vida – o racional, o emocional e depois o espiritual, geralmente nessa ordem.

Tenho ouvido especialistas falando que o louvor é a adoração cantada. Sendo assim, o momento de louvor nas nossas igrejas não pode ser meramente um momento artístico, de entretenimento. O louvor é uma das partes mais importantes do culto – mais até do que o sermão.

Em outras palavras, como desenvolver esse imaginário simbólico no interior da alma se os cânticos atuais são tão descartáveis? Nem dá tempo para que a alma seja impregnada pelo conteúdo espiritual de uma canção se logo ela sai do repertório, pois a galera do louvor sempre quer renovar e inovar com as recentes composições inspiradas no último retiro da moçada.

Ficamos então num ziguezague, indo e vindo, sem tempo suficiente para que a alma possa interligar as canções com nossa vida concreta diária. Quando começamos a ver essa ligação, temos de aprender novas canções e recomeçar tudo de novo. Assim, nesse mundo do descartável, nem o louvor escapa. Isso sem falar no vazio conteúdo doutrinário de muitas canções, que podem ter uma melodia envolvente, mas apresentam uma teologia despida de sentido, ou até mesmo contrária às Escrituras.

Certamente, há furos teológicos até em hinos consagrados, como no Deus é fiel, que tem um estribilho antropocêntrico e humanista ao afirmar “Deus é fiel a mim”. Ora, Deus é fiel a ele mesmo, às promessas que fez, e não a mim. Afinal, quem eu sou? Um pecador que, sem ele, estaria perdido de vez. Faço um apelo aos líderes de louvor para que dêem tempo ao povo para transformar as canções em vida. Que se evite o louvor descartável.

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